INTRODUÇÃO
Aos interessados, gostaria de abrir um espaço para uma possível discussão/reflexão a respeito da norma brasileira de classificação de via, a NBR16387. Para isso, apresentarei os parâmetros de qualidade de via que são considerados nesta norma e, em seguida, farei uma pequena análise sobre eles.
PARÂMETROS DE QUALIDADE DE VIA ADOTADOS NA NORMA NBR 16387
Os parâmetros de qualidade de via apresentados na norma NBR 16387 são divididos entre: bitola larga, bitola métrica e opcionais. Assim, apresento abaixo os parâmetros adotados para cada uma destas divisões:
Bitola larga
Limite de bitola aberta
Limite de bitola fechada
Variação rápida de bitola em 5 metros
Variação do nivelamento transversal em tangente ou curva circular
Variação do nivelamento transversal a cada 10 metros na espiral de entrada ou de saída de curvas
Desalinhamento de curva em 10 metros
Defeito de alinhamento em tangente
Excesso de superelevação na tangente ou na curva circular
Bitola métrica
Limite de bitola aberta
Limite de bitola fechada
Variação rápida de bitola em 5 metros
Variação do nivelamento transversal a cada 2 metros em tangente
Variação do nivelamento transversal a cada 2 metros em curva
Variação do nivelamento transversal a cada 10 metros
Desalinhamento de curva em 10 metros
Defeito de alinhamento em tangente
Superelevação máxima em curva
Opcionais
Descasamento das pontas dos trilhos nas juntas
Desnivelamento máximo do perfil longitudinal
Variação máxima do nivelamento longitudinal em 10 metros
Desnivelamento transversal máximo
Desnivelamento periódico ou sequencial na superelevação
Desalinhamento de curva em 20 metros
Excesso de superelevação na espiral
Deficiência máxima de superelevação
Variação do grau de curvatura
PREMISSAS DA ANÁLISE
Antes de iniciar a discussão, é importante ressaltar que, para a minha análise, assumo as seguintes premissas:
1. Os parâmetros básicos de geometria de via são:
Nivelamento Transversal (superelevação em curva);
Nivelamento Longitudinal;
Alinhamento;
Bitola.
2. Todos os outros parâmetros de geometria calculados para classificar a qualidade da via permanente ou seu dimensionamento, derivam destes parâmetros básicos.
3. Superelevação é por definição uma elevação intencionalmente colocada em uma curva a fim de compensar a força centrífuga na composição em movimento.
ANÁLISE
Entendo que um mesmo tema pode ser visualizado por diferentes perspectivas que levam a diferentes conclusões, portanto espero que os comentários abaixo sejam encarados como temas para reflexão e não como críticas ao modelo atual. Assim sendo:
Realmente existe a necessidade das terminologias e procedimentos de medição dos parâmetros de qualidade serem diferentes para as duas bitolas? Acredito que as terminologias e procedimentos de medição possam ser iguais para as duas bitolas, mantendo logicamente os limites dos parâmetros de cada bitola diferentes entre si.
Considerando a terminologia dos parâmetros de qualidade, não seria mais adequado considerar os termos nivelamento e alinhamento ao invés de desnivelamento e desalinhamento? Do meu ponto de vista desnivelamento e desalinhamento ocorrem quando o nivelamento e alinhamento excedem os limites estabelecidos na norma.
É de fato necessário adotar bases de 10 metros, 12 metros e 20 metros para diferentes parâmetros e diferentes ferrovias? Cada base possui suas vantagens e desvantagens: a corda de 10 metros é operacionalmente mais prática de se utilizar que a corda de 20 metros pois gera uma barriga menor no meio da corda esticada e consequentemente é menos sujeita a erros de medição devido à vibração da corda, além de permitir utilizar escalas milimétricas menores; por outro lado um erro na leitura de flecha com a corda de 10 metros ocasiona um erro no cálculo do raio da curva quatro vezes maior que na corda de 20 metros.
CONCLUSÃO
A fim de garantir uma via permanente mais segura, eficiente e produtiva é importante:
adotarmos parâmetros e referências de controle de qualidade eficientes e inteligentes;
medirmos os parâmetros de qualidade adotados;
analisarmos os parâmetros e compararmos com as referências adotadas (limites);
corrigirmos os locais em que os parâmetros fogem das referências;
uma comunicação eficaz entre os profissionais ferroviários de todo o Brasil viabilizada pelo uso de uma terminologia comum
desenvolver ferramentas de medição, análise e gestão baseados parâmetros padronizados.
Para isso, antes de mais nada, é fundamental adotar normas ferroviárias brasileiras que sejam escritas por profissionais da indústria ferroviária e que atendam plenamente aos objetivos para os quais foram escritas.
Por fim, gostaria de indicar a leitura da norma brasileira NBR16387, da norma européia EN 13.848-1, bem como as diretrizes da FRA na subpart C, chapter 1, volume 2. E espero que possamos continuar contribuindo para o desenvolvimento da ferrovia nacional.
Escrito por Paulo Lobato, PMP
Especializado em via permanente ferroviária e gestão de projetos
Elevada experiência em gerenciamento de projetos e análise de viabilidade técnica-econômica de novos projetos
Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensão em ferrovia e transportes pela École Nationale des Ponts et Chaussées em Paris/França
Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)
Certificado em Inglês Avançado (CAE) pela Cambridge University
Pós-graduado em Engenharia Ferroviária pela PUC-Minas
Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC
Pós-graduado em Restauração e Pavimentação Rodoviária pela FUMEC
Contato: (31) 98789-7662
E-mail: phlobato01@gmail.com
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