top of page

Trilhos ferroviÔrios: substituição de trilhos

Atualizado: 1 de abr. de 2023


Introdução


Neste post vamos aprender sobre o processo de substituição de trilho. Ɖ essencial falarmos da seguranƧa no uso de EPI’s adequados e da verificação das ferramentas que serĆ£o utilizadas. AlĆ©m disso, descreveremos cada passo da descarga manual e mecanizada de trilho, sejam eles curtos ou longos. E, enfim, falaremos da substituição de trilho.



Segurança na substituição de trilhos


Como jĆ” foi mencionado, Ć© muito importante falarmos sobre a seguranƧa na hora da execução da substituição de trilho, o uso de equipamentos em bom estado, e o uso de EPI’s.


Em primeiro lugar, reforƧamos que os equipamentos de proteção aos indivĆ­duos devem ser inspecionados diariamente. AlĆ©m disso, existem EPI’s especĆ­ficos para cada operação, por exemplo, no corte de trilho devem ser usados protetor facial e avental de raspa contra projeção de partĆ­culas. No geral, todos os trabalhadores no processo de substituição de trilho devem estar com: capacete, protetor auricular, óculos de proteção, botinas e perneiras.


Em segundo lugar, ressaltamos a importância em manter as ferramentas em perfeito estado; uma dica é a cor do mês. Esse procedimento se faz pela marcação das ferramentas todo mês com uma cor diferente; ao trocar de mês trocamos a cor e inspecionamos as ferramentas. Sendo assim, quando uma ferramenta estiver com uma cor diferente da escolhida para o mês, significa que não houve a vistoria desta.



Outro ponto a ser mencionado é a sinalização da via no período de qualquer tipo de manutenção, neste caso, a substituição de trilho. Sendo assim, devemos obedecer aos regulamentos operacionais.


Ɖ necessĆ”rio, tambĆ©m, ficarmos atentos aos animais e insetos peƧonhentos. Ɖ muito recorrente ouvir casos de picada de cobra ou de escorpiĆ£o em ferrovias e, por isso, o cuidado deve ser redobrado.


Abaixo listamos outros cuidados que devemos ter:

  • Proteção contra intempĆ©ries

  • Cuidados com incĆŖndio

  • Cuidados aos abastecimentos

  • Cuidado com as mĆ£os!

  • Confira os grampos antes de utiliza-los

  • Fique atento Ć  posição ergonĆ“mica

  • NĆ£o utilize ferramentas improvisadas

  • Proteja a si e ao seu colega


Descarga manual de trilhos curtos


Para fazer a descarga do trilho devemos seguir os seguinte passo a passo:

  • PASSO 1: os locais de descarga deverĆ£o ser informados para o operador do trem no inĆ­cio da operação.

  • PASSO 2: no local de descarga e com o trem parado/bloqueado/isolado a equipe deve se certificar que a carga nĆ£o esteja apoiada sobre os fueiros da lateral do vagĆ£o plataforma.

OBS: Fueiros são peças de madeira ou metÔlicas (pedaços de trilhos), fixadas em sentido vertical, por meio de alças metÔlicas, nas laterais dos vagões plataforma (prancha), visando fixar os carregamentos de madeira, lenha, dormentes, pedra de lastro, trilho, etc. Na foto a seguir podemos ver uma transportadora de trilho e as hastes metÔlicas impedindo que o trilho caia.


  • PASSO 3: a equipe envolvida na descarga deve ficar fora da Ć”rea de projeção da carga, que deverĆ” ser sinalizada, pois pode vir a desmoronar sem ação de qualquer empregado.

  • PASSO 4: Somente após os devidos procedimentos de saĆŗde e seguranƧa cumpridos, a autorização e a orientação do responsĆ”vel, a equipe de descarga poderĆ” acessar o vagĆ£o e iniciar a atividade.

  • PASSO 5: se a carga estiver apoiada na lateral do vagĆ£o, a equipe deverĆ” acessa-lo pelo lado oposto antes de retirar o fueiro para o reposicionamento da carga.

  • PASSO 6: utilizando-se de alavancas, marretas ou chaves, os executantes devem retirar os cabos e fueiros para iniciar a descarga. Somente serĆ” permitida a retirada dos fueiros depois de certificado que nĆ£o hĆ” risco de queda da carga ou do executante.

  • PASSO 7: se durante a retirada dos fueiros, ocorrer a queda involuntĆ”ria de qualquer material, a tarefa deve ser interrompida e reavaliada as condiƧƵes de seguranƧa com a presenƧa de todos os envolvidos na atividade.

  • PASSO 8: todos os executantes devem zelar pela integridade das pessoas que possam vir a transitar próximo ao local, interrompendo sua trajetória, avisando ao responsĆ”vel pela atividade de retirada dos fueiros e interrompendo a tarefa atĆ© que seja normalizada a situação.

  • PASSO 9: os executantes envolvidos na atividade somente realizarĆ£o a descarga com autorização do responsĆ”vel.

  • PASSO 10: a atividade Ć© realizada movimentando a barra de maneira coordenada com os colegas e utilizando alavancas apoiadas no piso do vagĆ£o (conforme imagens abaixo).

  • PASSO 11: o responsĆ”vel pela descarga utilizarĆ” 01 apito para autorizar os executantes a descarregar o trilho curto. Cada silvo representa autorização para descarga de uma Ćŗnica barra de trilho.

Descarga mecanizada de trilhos curtos


A descarga mecanizada envolve muito menos colaboradores, Ć© mais segura e produtiva. Ɖ vĆ”lido falar que ela, tambĆ©m, mantĆ©m a qualidade do trilho. Abaixo temos dois exemplos de descarga mecanizada.


O primeiro modelo, à esquerda é composto por talhas mecânicas onde os operadores ficam posicionados e de forma coordenada eles içam o trilho com a talha e posicionam o trilho sobre o solo.


JƔ no caso Ơ direita, Ʃ usado um mini guindaste que utiliza o mesmo principio falado no parƔgrafo anterior. Essas duas maneiras de descarga preserva o trilho, na medida que evita defeitos como fraturas. Na imagem hƔ exemplo deste defeito.


Para saber com mais detalhes sobre este tipo de descarga faƧa o nosso curso.


Descarga mecanizada de trilhos longos


A descarga de trilhos longos soldados só pode ser realizada de maneira mecanizada, utilizando por exemplos os MTLS, Lobster, os quais são equipamentos que circulam por uma frota especial de trilhos longos soldados. O trilho que estÔ na frota é retirado e inicialmente amarrado na ponta do trilho a ser substituído. Em seguida, a frota começa a se movimentar e o trilho vai sendo deixado lentamente no solo.


Substituição de trilhos


Chegamos de fato ao procedimento de substituição de trilhos. Para isso, hÔ alguns procedimentos que devemos seguir:


1) Monitorar a temperatura

Ɖ necessĆ”rio monitorar a temperatura durante todo o processo. A BRFERROVIA fabrica termĆ“metros para realização desta atividade. Confira no nosso site este e outros instrumentos de medição para via permanente. O trilho deve estar dentro da faixa de temperatura neutra.


2) Posicionar o trilho

Este deve ser posicionado no centro da linha próximo à placa de apoio do trilho que que serÔ substituído. Para substituição de vÔrios trilhos longos soldados (TLS) em sequência, a distância entre eles deve ser ajustada, o trilho deverÔ ser empurrado ou puxado em sua extremidade com auxílio de macaco apoiado nos dormentes da via ou posicionado utilizando talha mecânica. O posicionamento deverÔ ser orientado via rÔdio por um funcionÔrio na extremidade oposta da barra.


3) Buscar pontos concentradores de tensão

Algumas evidências são: deslocamentos laterais da grade ferroviÔria e/ou marcas de deslocamentos longitudinais dos trilhos (marcas dos grampos/pregos no patim do trilho e/ou dos deslocamentos do trilho nas placas). Esta ação é muito importante para evitar acidentes pessoais durante o corte do trilho aplicado.

4) Cortar o trilho com concentração de tensão

Ɖ necessĆ”rio escolher o local do corte inicial no ponto de menor tensĆ£o e cortar utilizando o maƧarico. Escolhido o local do corte, este deverĆ” ser perpendicular ao trilho e de baixo para cima, o corte serĆ” iniciado pelo patim do trilho indo em direção ao final da alma, com dois cortes paralelos e equidistantes em aproximadamente cinco centĆ­metros e um terceiro longitudinal e abaixo do boleto que ligarĆ” os cortes paralelos, conseguindo assim separar todo patim e alma cortados, sem ainda cortar o boleto. AlĆ©m disso, utilizando a ponta de uma alavanca bater no pedaƧo cortado atĆ© que se solte completamente do trilho. Com o boleto inteiriƧo realizar um corte na extremidade. Com pequenos cortes ir desgastando o boleto atĆ© que a tensĆ£o existente no local diminua. Caso os cortes nĆ£o sejam suficientes para aliviar os topos dos trilhos, repete-se a operação, tendo sempre o cuidado de nĆ£o cortar alĆ©m da abertura prevista para realização de solda ou junta. Este procedimento tambĆ©m pode ser adotado em juntas, caso nĆ£o haja possibilidade de desencontro dos trilhos devido a concentração de tensĆ£o no local.


5) Retirar parcialmente a fixação

Se você estiver trabalhando em uma linha de carga e puder colocar uma restrição de velocidade para retirar parcialmente a fixação antes de bloquear a linha, é recomendÔvel fazê-lo. Neste caso, pode-se retirar até 75% da fixação em tangentes (tira 3, deixa 1) e 40% em curvas (tira 2, deixa 3).


6) Selecionar grampos reempregƔveis

Selecionar visualmente as fixações em condições de serem reempregadas. Esta tarefa pode ser executada em paralelo com outras atividades durante todo processo de substituição do trilho.


7) Interditar a via

Para solicitação do tempo de interdição deverÔ ser considerada a FTN (Faixa de Temperatura Neutra). A substituição da barra deve ocorrer na faixa de temperatura neutra a fim de minimizar a consequência dos esforços longitudinais que o trilho sofrerÔ enquanto instalado. CÔlculo da Temperatura Neutra de Referência (TNR) e da Faixa de Temperatura Neutra (FTN)

Tmin: Temperatura no trilho mínima histórica da região

TmÔx: Temperatura no trilho mÔxima histórica da região


8) Cortar o trilho ou desmontar junta metƔlica

Ɖ necessĆ”rio retirar a brita do vĆ£o no local onde o trilho serĆ” cortado ou levantar o trilho com o macaco/guindaste. Posicionar a mĆ”quina de cortar trilhos na posição marcada. Cortar o trilho a ser substituĆ­do. No caso de tala de junção, retirar os parafusos com chave de junta e remover as talas de junção.


9) Retirar o restante da fixação

Remover 100% da fixação do trilho a ser substituído


10) Remover tensƵes residuais do trilho

Para isso, deve-se coletar o trilho a ser instalado, erguendo a barra a ser implantada com auxílio do macaco de linha, alavancas ou guindaste colocando roletes a cada 10m embaixo do patim do trilho. Bater com martelo de cobre/bronze ao longo de toda sua extensão.


11) Retirar o trilho usado e assentar o trilho novo

A atividade de retirada do trilho antigo e assentamento do trilho novo pode ser realizada de forma Mecanizada ou Manual. Algumas boas prÔticas relacionadas a esta atividade são:

  • Anotar a quilometragem exata do inĆ­cio e fim do trilho, assim como data de aplicação, para fim de controle posterior de vida Ćŗtil do trilho.

  • Marcar o trilho retirado informando a parte do trilho que ainda pode ser aproveitada na via.

  • Para trilhos retirados e posteriormente cortados, a equipe deve garantir que trilhos ou pedaƧos menores fiquem dispostos ao lado da via, fora do ombro do lastro ou saia do talude, em condiƧƵes seguras.

11A) Retirada e Assentamento (mecanizado)

  • O Trilho a ser substituĆ­do Ć© retirado com o guindaste do caminhĆ£o de serviƧo prendendo o trilho com uma garra e erguendo-o em uma das extremidades para fora das placas e depois para fora da via e em local que nĆ£o comprometa a circulação das composiƧƵes, os serviƧos com Equipamentos de Grande Porte (EGP) e a passagem de pedestres.

  • A medida que a barra a ser substituĆ­da Ć© retirada das placas, a outra barra a ser instalada vai sendo colocada com o apoio de uma equipe de no mĆ­nimo seis homens munidos de alavancas lisas.

  • Para trilhos de atĆ© 15m (curtos) a retirada e o assentamento deverĆ£o ser feitos com madal e auxiliada com alavancas lisas para o encaixe nas placas de apoio.

  • Se for necessĆ”rio rodar o trilho para a concordĆ¢ncia de topo de trilho desgastado com trilho novo, esta operação deverĆ” ser feita com o uso do guindaste.

  • O guindaste levantarĆ” o trilho a poucos centĆ­metros da linha, para que um colaborador faƧa o giro da barra.

  • A atividade deve ser interrompida toda vez que qualquer empregado pressentir que ele ou outro podem estar expostos a qualquer risco de acidente.


11B) Retirada e Assentamento (manual)

  • O trilho a ser assentado deverĆ” estar no centro da via, entĆ£o, com auxĆ­lio das alavancas lisas faz-se a retirada e assentamento do trilho no sentido para fora da via.

  • Deve-se atentar para as instruƧƵes do encarregado que deverĆ” ditar o ritmo do trabalho de forma a evitar esforƧos excessivos da equipe.

  • NĆ£o se deve movimentar manualmente os trilhos posicionados na saia da banqueta na direção do centro da via, pois, neste caso, hĆ” elevado risco deste trilho voltar.

12) Aplicar a fixação

A medida que a barra for sendo retirada e a outra barra estiver posicionada dentro das placas, a fixação deverÔ ser aplicada a 25% (aplica 1/pula 3) ou 50% (aplica 2/pula 2) até o final da frente de serviço. Em seguida retornar colocando o restante, completando assim 100% da fixação. Ao colocar 25% ou 50%, a via jÔ permite passagem de trem, ficando a critério do responsÔvel pelo serviço a liberação do trecho com velocidade restrita. Em caso de trilho curto, aplicar 100% da fixação.



13) Unir o extremo dos trilhos

Uma vez finalizada a atividade de retirada e assentamento, os trilhos devem ser unidos atravƩs do mƩtodo de soldagem, que Ʃ geralmente aluminotƩrmica, ou entalamento. Ambas as atividades devem ser executadas conforme procedimento especƭfico para as mesmas.


Os passos para entalamento dos trilhos são:

  • Marcação dos furos;

  • Furação;

  • Biselamento dos furos;

  • Aplicação da tala.

O biselamento do furo Ć© uma atividade importante pois elimina quinas vivas de onde poderiam se iniciar fissuras que levariam Ć  fratura do trilho.


14) Liberar a linha para circulação


15) Recolher as bandeiras de sinalização


16) Recolher resĆ­duos e descartĆ”-los corretamente


Conclusão

Chegamos ao fim de mais um post, o qual falamos sobre a substituição de trilho e todo o processo envolvido. Aprendemos sobre as normas de segurança, bem como o passo a passo para fazer o processo de substituição. Vimos, também, exemplos de mÔquinas utilizadas neste processo. Se você quiser se aprofundar mais neste assunto faça nosso curso de Fundamentos de Manutenção de Via Permanente.


Texto adaptado do Manual Técnico de Manutenção da Ferrovia Centro-Atlântica


Escrito por Paulo Lobato e Laura Lima

Especialista em manutenção de via permanente ferroviÔria

Elevada experiência em gerenciamento de projetos e anÔlise de viabilidade técnica-econÓmica de novos projetos

Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensĆ£o em ferrovia e transportes pela Ɖcole Nationale des Ponts et ChaussĆ©es em Paris/FranƧa

Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)

Certificado em Inglês Avançado (CAE) pela Cambridge University

Pós-graduado em Engenharia FerroviÔria pela PUC-Minas

Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC

Pós-graduado em Restauração e Pavimentação RodoviÔria pela FUMEC

Contato: (31) 98789-7662

E-mail: phlobato01@gmail.com


bottom of page