Introdução
Vimos no post anterior sobre os conceitos e características do lastro, para darmos continuidade a este assunto trouxemos o assunto sobre a manutenção do lastro. Com o tempo o lastro começa a se degradar devido aos esforços a que é submetido e, por isso, sua manutenção é imprescindível. Sendo assim, nesta postagem falaremos sobre controle de qualidade, limpeza e desguarnecimento e desc
arga de lastro, a fim de manter uma boa estabilidade, resistência e drenagem do mesmo.
Controle de qualidade do lastro
É muito importante avaliar a condição por meio do controle de qualidade e manutenção, uma vez que isso reduzirá as intervenções de socaria da linha. Para isso, podemos contar com a utilização de tecnologias que auxiliam na avaliação da superfície e do interior do lastro, como radar de penetração no solo (GPR), escaneamento a laser e câmeras lineares, integradas com GPS e vídeo.
As consultorias especializadas no fornecimentos deste tipo de solução conseguem entregar um relatório completo da inspeção da via, para avaliar sua qualidade. Para isso, elas utilizam diferentes sensores e instrumentos instalados nos veículos dos clientes e veículos próprios.
Estas consultorias possuem equipes especializadas para conduzir a avaliação do lastro e emitem um relatório completo sobre a situação, evidenciando suas necessidades. Com isso, posteriormente fica muito mais fácil direcionar a equipe de manutenção para o serviço e local corretos de forma bem planejada, antes que a situação se agrave.
Ground Penetrating Radar (GPR)
O GPR é um equipamento que utiliza ondas eletromagnéticas para avaliar as diferentes camadas do solo.
Escâner laser
O escâner laser, ou laser scanning, tem a função de mapear o perfil da via, ativos e sistema de drenagem.
Câmeras Lineares
As câmeras lineares tem como função mapear o tamanho de partículas, afloramento de lama, desgaste de agulha e componentes de via.
Limpeza e desguarnecimento de lastro
O objetivo da limpeza/desguarnecimento do lastro é fazer com que este retorne com suas características adequadas, mantendo uma boa elasticidade, drenagem e capacidade de suporte.
A limpeza pode ser feita de maneira manual e mecanizada. Existem vários modelos de desguarnecimento mecanizado, dentre os quais podemos citar os seguintes equipamentos de desguarnecimento:
Desguarnecedora total
Desguarnecedora de ombro
Desguarnecedora a vácuo
Escavadeira de desguarnecimento
Recomendações de limpeza conforme norma - ABNT NBR 7914:1990
Limpeza do lastro
Deve ser feita periodicamente entre os dormentes e na banqueta (ombro).
Embaixo do dormente só se deve fazer em função de inspeção técnica que a determine e sempre que possível, por processo mecânico que permita a retirada do lastro, sua recuperação, reestabelecimento do perfil da plataforma, relastramento, socaria, nivelamento e alinhamento.
Quando essa limpeza se fizer manualmente ou com equipamento mecânico, não devem ser desguarnecidos mais de quatro dormentes consecutivos ou mais de 20% dos dormentes de um mesmo trilho.
A limpeza embaixo do dormente não deve ser executada em tempo chuvoso.
Limpeza até a face inferior do dormente
Retirar parcialmente ou totalmente o lastro na seção transversal da linha ( sentido do comprimento do dormente) com utilização de ferramenta adequada. Sendo que em linha dupla, a seção desguarnecida deve ser considerada até a metade da entrevia.
O material retirado poderá retornar para a via após ser peneirado.
Recompor o lastro preenchendo os vazios existentes com lastro novo, se for o caso.
Socar convenientemente o lastro sob o dormente, recolocando a linha nas condições geométricas especificadas para a mesma.
O rejeito constituído de minério, brita fina e outros, deverão ser coletados e descartados adequadamente para que não retornem para a via com a próxima chuva.
Limpeza até 30 cm abaixo da face inferior do dormente
Não se recomenda exceder a extensão de 5 metros e profundidade de 30 cm, pois se a atividade se torna antiprodutiva.
Não se recomenda abrir vãos maiores que 1,20m. Antes de avançar para os próximos 1,20m, deve-se recompor o lastro e efetuar socaria manual do local já desguarnecido.
Em extensões maiores que 5 metros, deve-se programar atividade mecanizada.
Desguarnecimento total do lastro
Em linhas duplas, a seção transversal de desguarnecimento de cada linha deve ser limitada até a metade da entrevia entre uma e outra via.
Em linhas singelas, o desguarnecimento deverá atingir toda a seção transversal típica.
Deve-se sempre respeitar as inclinações da plataforma de forma a guiar a água para o sistema de drenagem.
Em linha dupla, a inclinação não deverá direcionar a água para a linha adjacente.
Deve-se aproveitar a oportunidade do desguarnecimento para ajustar as cotas de topo do trilho rebaixando a linha e reestabelecendo a altura ideal do lastro.
Quando possível, deve-se associar o desguarnecimento à aplicação de manta geotêxtil e geogrelha para mitigar a penetração de lastro na plataforma e o bombeamento de finos.
A espessura de lastro não desguarnecida atuará como sublastro já compactado pela ação do tráfego.
Após o desguarnecimento e reposição do lastro faltante, deve-se realizar a correção geométrica da linha e a regularização do lastro.
Equipamentos para limpeza mecanizada
Desguarnecedora total
Equipamento para remoção, recolhimento e peneiramento de lastro sob dormentes através de corrente
Vantagem: Peneira lastro e alta produtividade
Desvantagem: Alto custo e necessidade de gabarito
Produtividade: 120 m³/h
Custo aproximado: R$ 45 MM
Desguarnecedora a vácuo
Equipamento para aspirar lastro sob e entre dormentes através de bico de sucção.
Vantagem: Flexibilidade para atuação em túneis, AMV’s e pontes lastradas
Desvantagem: Custo médio, não peneira lastro e possui baixa produtividade
Produtividade: 39 m³/h (0,5 dorm./min)
Custo da desguarnecedora: R$ 16,47 MM
Custo de manutenção: R$ 720 M a.a.
Desguarnecedora de ombro
Equipamento de remoção e recolhimento de lastro sob dormentes através de correia dentada
Vantagem: Custo médio e compacto
Desvantagem: Não peneira lastro
Produtividade: 78,6 m³/h a 118m³/h (1,0 a 1,5 dorm./min)
Custo aprox. do equipamento: R$ 20 MM
Escavadeira de desguarnecimento
Implemento de escavadeiras de pequeno, médio e grande porte para remoção de lastro sob dormentes através de correia dentada.
Vantagem: Baixo custo e compacto
Desvantagem: Não recolhe peneira lastro, não trabalha em cortes apertados
Produtividade: 106m³/h a 129m³/h (2,25 a 2,75 dorm./min)
Custo de implemento: R$ 400 M
Custo de escavadeira: R$ 650 M
Custo rodoferroviário: R$ 200 M
Custo de manutenção: R$ 21 por hora produtiva
Para entender mais sobre desguarnecimento adquira nosso curso, onde falamos, também, sobre alguns casos de desguarnecimento.
Descarga de lastro
A descarga de lastro deve ser realizada quando necessária, na quantidade necessária e no local correto, para que não ocorram os problemas listado abaixo:
Orientações de segurança na descarga de lastro
Já falamos em outras postagens, mas é sempre importante mencionar a importância do uso de EPI's.
Abaixo, seguem algumas informações de segurança:
Utilize todos os EPI’s em todo o momento da descarga.
Atenção à posição ergonômica durante a descarga
Cuidado ao caminhar devido a risco de tropeços e torções
Siga sempre as instruções do encarregado de descarga
Instruções gerais para descarga de lastro
1. Limpar a lateral da via de obstáculos antes de iniciar a descarga
2. Destravar as comportas (tremonhas) de descarga antes de iniciar a descarga
3. Controlar a abertura das comportas dos vagões
4. Descarregar o material no local definido pelo encarregado
Vagão de Descarga HNE
Vagão de descarga (HAD)
Comporta de descarga
Descarga central ou lateral
Controle de descarga
O controle de descarga é utilizado para controlar a quantidade e o local de descarga. Um exemplo é controle de descarga aberta
Descarga do lastro
Conclusão
Finalizamos mais uma postagem, onde vimos a importância da manutenção do lastro. Além disso, foram mostrados os equipamentos utilizados no desguarnecimento do lastro. Foiram mencionadas também as recomendações para limpeza do lastro de acordo com a norma ABNT NBR 7914:1990 e o controle de qualidade para evitar as intervenções de socaria na linha.
Escrito por Paulo Lobato e Laura Lima
Especialista em manutenção de via permanente ferroviária e gestão de projetos com 15 anos de experiência profissional
Engenheiro Civil formado pela UFMG em 2010 com curso de extensão em ferrovia e transportes pela École Nationale des Ponts et Chaussées em Paris/França
Certificado em Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI)
Pós-graduado em Engenharia Ferroviária pela PUC-Minas
Pós-graduado em Gestão de Projetos pelo IETEC
Pós-graduado em Restauração e Pavimentação Rodoviária pela FUMEC
Contato: (31) 98789-7662
E-mail: phlobato01@gmail.com